ESCAVAR UMA DICOTOMIA: seria este um novo e indispensável, mas já tão falado desafio, cujas tentativas de mitigação ou superação também vêm se mostrando inócuas? “Direita” e “Esquerda” sobreviverão?

Reflexões Atuais

O mundo gira e fatos ocorrem e ocorrem. Vence pelas urnas uma chapa com ideias mais extremistas de direita. A esquerda é derrotada, mas com boa quantidade de votos conseguidos. Já se deve parar aqui: será que não passou da hora de verdadeiramente se repensar a dicotomia esquerda e direita? Mas um repensamento diferente do por vezes proclamado. Um pesquisado, bem fundamentado, prática e teoricamente articulado? E também não coincidente com aproximações como “progressismos”, “conservadorismos”, “libertarismos”, “liberalismos” etc. Diante de um mundo inflamado por ódios e temores, alimentado por redes digitais moderníssimas e cujos algoritmos tudo proporcionam, o foco precisa se desviar. E é para aí que os estudos parecem dever ter que se direcionar para que se tente instaurar uma verdadeira e real corrente e pressão sociais. Sendo ainda mais direto, para além de tantas medidas novas tomadas por um também novo Governo, como era de se esperar, não se pode fazer o Brasil caminhar para uma desinstitucionalização. Para o fim de uma institucionalidade, ainda que mínima, longe de um ideal, mas com ares crescentes de amadurecimentos, positivos e negativos, como são os amadurecimentos de todo e qualquer ser-humano e do que dele decorre. Porque falar de ideologia requer também estudo. Afinal de contas, governos, quaisquer que sejam, iguais ou diferentes de anteriores, ideologizam o tempo todo. Todos nós, cidadãos, ideologizamos, a partir de nossas crenças, convicções e opiniões. Pensar, opinar, preferir, preterir é rechear as atitudes de ideologias, quaisquer que sejam. Basta apenas medir o grau e a intensidade, a partir de premissas teórico-sociológicas. Sobre mais um atentado ambiental (Brumadinho), altamente previsível (2019), não é institucional ouvir como uma das primeiras frases de uma recém-eleita Administração Publica algo parecido com: “essa conta não pode vir para a gente”. Sobre comprovadas ameaças de morte a um parlamentar (Jean Wyllys), que finda por deixar o país e abrir mão de seu cargo público eletivo (2019), não é institucional nada se fazer, nenhuma proteção oficial consentânea ser providenciada ou incrementada. E este mais um parlamentar, entre tantos ameaçados neste país. Sobre liberação de milhares de agrotóxicos de, tecnicamente, não recomendada utilização (2018/2019), é institucionalmente desanimador obedecer a ordens de governo e, não, de Estado (no sentido de políticas públicas, que podem ser passageiras ou, planejadamente, com objetivos duradouros), a fim de proteger interesses específicos em uma agenda política também recortada do ponto de vista de destinatários. É daí e de outros atos que se extrai que um individualismo de ideias não pode tomar conta de uma nação, sob pena de derrocada não somente democrática, mas do contrato social pregado já há séculos pelos “nossos” clássicos e seguidos mundo afora. O mundo moderno e contemporâneo, assim como o antigo, por mais majoritária que pudesse ser uma pretensão (o que não é o caso do Brasil), não comportou e comporta a unanimidade. Portanto, o aparelho estatal deve estar totalmente pronto para atender às maiorias, com certeza, mas também e, sobretudo, às minorias. E aqui não se refere apenas à Constituição e ao Poder Judiciário como líderes deste processo, mas também e, principalmente, aos governantes e governados, aos contratantes sociais. O âmbito dos debates, diálogos, discussões, disputas, pressões sociais deve ser sempre um. E o patamar institucional, isto é, das instituições brasileiras, sempre outro e acima. Onde todos os debates e seus resultados chegarão, mas com um detalhe importante: o dever de manutenção da ordem democrático-constitucional. Com a maturidade para, no caso de indicativo de modificações, instaurar-se um novo processo de discussões, comunicações institucionais e sociais, para que se tente concluir se ódios, raivas, amores e paixões advindas do “andar de baixo”, são efêmeras, perenes, passageiras ou não. E para que assim medidas democráticas e com base no verdadeiro due process of law sejam adotadas. Com a rigidez legal e constitucional que o caso e/ou caos requer. Mas sem esquecer que instituições debatem, discutem, dialogam etc. Sim, claro. Mas em patamar diverso e a partir de uma análise criteriosa e que jamais seja populista e, sim, considerando, entre outros, os resultados dialéticos de outros “andares”, em repetição à analogia aqui já feita. E isso tudo deve estar embutido na cabeça de administradores e administrados. Sob pena de “esquerda” e “direita” serem as mãos de um estapeamento coletivo, socos e pancadas intencionadas, mas igualmente sem direção. O ar já está rarefeito. Se não houver um trabalho intenso de pesquisa, com muito suor, vontade e intenção de grandes aprofundamentos para a produção de resultados úteis, tudo isso para a redução dicotômica social, política e econômica do país, Marte poderá ser com muita brevidade o melhor destino para todos nós: lá respiraremos melhor do que por aqui. B, L.